Conheça o ilustrador, designer gráfico e artista independente de Curitiba, Leonardo Yorka
Se apresente, por favor.
Eu sou Leonardo Yorka (@yorka), tenho 23 anos e sou de Curitiba. Sou ilustrador, designer gráfico e artista no tempo vago.
Por que Yorka?
Yorka veio de um desenho que eu fiz quando era criança e achei um bom nome pra começar a pintar. Não tem um significado, é só um nome pra assinar as coisas que não seja o meu próprio, como um alter ego.
Como começou a desenhar?
Desenho desde moleque por influência do meu pai e do meu tio que também trampavam com design. Foi um caminho natural, era algo que já estava ali e só dei continuidade.
Compartilhe com a gente algumas das suas influências.
Vai desde a música até o movimento futurista italiano. Francis Bacon eu sempre curti muito. O Philip Guston é outro artista que eu acho foda. A escola britânica é a melhor. São esses caras do pós-guerra, como o Lucian Freud, na literatura o Sartre, um rolê bem pesadão.
Acho que o que sempre me interessou são as pessoas e o jeito de retratar elas. E esses caras têm esse impacto negativo da guerra que muda o olhar sobre a humanidade e passam a retratar ela de uma maneira desfigurada.
É um processo de tentar entender a figura humana pra desconstruir ela visualmente. Eu sempre busco sintetizar um desenho ao máximo e tornar aquilo o mais simbólico possível.
A música também é uma influência no seu trabalho?
A música é uma influência grande também, sempre escuto pra produzir, desde o rap, do pop, até o jazz e o samba. Eu tenho curtido escutar música brasileira. Tô pirando muito nuns discos do João Bosco, um sambinha da Mart'nália, qualquer coisa que embala algo menos cabeça e deixa o corpo fluir.
Acho que o jazz é a improvisação, então é o suprassumo da parada, mas ele tá embasado numa técnica muito foda. Eu consigo ver meu trabalho também como uma improvisação e uma experimentação, mas sem essa técnica. Eu me inspiro na forma como as coisas se criam sozinhas ali. As notas saem de algum lugar que a pessoa não está pensando.
E eu gosto dessa coisa do erro que o jazz trabalha bem. Uma nota errada não é necessariamente errada, dependendo do contexto, na verdade, ela é muito gostosa de ouvir.
Alguém mais contemporâneo também te influencia de alguma forma?
A última exposição que eu vi e que me impactou bastante foi do Pedro Moraleida, no Instituto Tomie Ohtake. Um cara com um trabalho de uma potência fodida que, enfim, teve um final trágico super novo, mas já com uma produção imensa. Eu me interesso por essa pintura de impacto. Esse é um cara que eu gosto de olhar até como um certo discurso, um discurso menos fofo, um cara mais pancada.
E tem artistas aqui de Curitiba também que eu sempre olhei. O Marciel Conrado (@marcielconrado) é um cara que eu já colei junto pintar algumas vezes, bem cabeça, que abriu espaço pra galera mais nova. Tem o Neiton Nunes (@arvorum), moleque sangue bom.
O Fábio Zimbres (@fabiozimbres) é um cara que da mesma forma consegue trabalhar esse desenho desconstruído, não tenta fazer um desenho perfeito, é tipo uma estética do jeitinho, meio que uma gambiarra do desenho, mas que fica foda. Não é tosco. Na verdade, é superelegante a forma como ele trampa o desenho dele.
O que me parece que você está dizendo é que o seu trabalho não vem de uma técnica. Ele vem de onde saem as notas do jazz, não sei que lugar é esse, mas não é algo cabeça e racional.
Acho que parte de uma observação das coisas, mas que você não tem que pensar. Essas coisas que você observa estão retidas em você de alguma forma e na hora que você tá produzindo, elas tomam forma naturalmente.
Eu gosto de pensar que às vezes eu nem sei o que eu tô fazendo, mas isso tá vindo de algum lugar que partiu de alguma observação de alguma coisa, algum fenômeno que eu vi na rua enquanto eu tava caminhando. Eu gosto de vir pro estúdio caminhando, então sempre tem essa interação com a rua.
Me conte mais desse processo de caminhar até o estúdio, observar a rua, o que dá o ‘start’ pra criar um desenho, as suas inspirações, enfim.
Tudo parte de uma conversa com um amigo ou é uma coisa que eu pensei e quis registrar. Eu boto muita fé nesse recurso do registro. Às vezes até levar meu trabalho muito a sério, como uma obra de arte, é difícil, porque pra mim é só um registro do que eu tava sentindo naquela hora.
O estúdio é no Centro, da minha casa pra cá dá uns 20 minutos, e é o tempo que eu faço questão de vir a pé pra poder pensar no que eu quero fazer.
Tem uns personagens aqui no Centro que eu sempre bato o olho nos caras e eles estão sempre ali naquele mesmo lugar. E eu tiro uma pira com essa coisa da repetição. Tem o tiozinho que vende ouro ali na Rua XV, é o mesmo cara que tá ali todo dia, às 2h da tarde.
Aí tem o cara da banquinha aqui embaixo que é o Mauro. É um cara que tá vendendo Corote, pilha e lençol térmico faz 20 anos. Eu gosto dessas figuras que são emblemáticas. São personagens que se você parar pra prestar atenção são muito originais. E conversas com essas pessoas também me trazem muita inspiração.
Essa troca é o verdadeiro ‘start’ pra qualquer coisa, estar em contato com o mundo mesmo.
E essa janela enorme na sua sala, você me disse que olhar por ela também é ‘start’ para várias ideias.
Eu sempre passo muito tempo olhando pra fora. Eu gosto dessa vista ampla. Dá uma clareza pras ideias. Quando você tá materializando uma coisa, você tá ali de certa forma numa janela prum outro lugar.
Bem na janela da minha sala tem umas aulas de pintura com umas vovozinhas. E são umas tiazinhas que sentam ali e ficam horas pintando um vasinho de flor. Me passa uma paz muito massa ver que elas estão ali muito concentradas só trabalhando em cima de uma coisinha.
Ao mesmo tempo que eu tô olhando as tiazinhas, eu sei que às vezes elas me olham também, e elas não devem entender direito o que eu tô fazendo, mas rola essa troca. Uma hora eu tenho que chamar elas pra tomar um chazinho e comer um biscoito rs.
Como funciona o processo de criação no seu trabalho?
Pra mim é difícil falar sobre o meu trabalho, porque eu não tenho um discurso. Acho que é uma coisa que rola um pouco nas artes do pessoal ter um discurso muito bem construído. Mas não é uma coisa que eu me preocupo muito. Eu gosto de deixar as coisas fluírem de uma forma independente e se isso ressoar em alguém, massa, mas se também não ressoar, é nóis.
Às vezes eu tô fazendo uma coisa e eu nem sei o que eu tô buscando naquilo. Então às vezes é difícil parar ou começar, porque eu não sei direito o que eu quero fazer. Mas enquanto isso tá acontecendo é que é legal, esse processo de ver a coisa mudando. É um diálogo interno.
Tenho me interessado por algumas paisagens também. Tô achando bem difícil enquadrar uma paisagem dentro de um quadradinho.
Tem as pinturas de paisagem do Miguel Bakun, que é um artista paranaense, e é um cara que eu nunca brisei muito antes, mas ultimamente eu tenho pesquisado e achado foda.
Tem muito a ver com essa troca com o mundo que eu falei, é um cara que levava o cavalete dele pra rua e pintava o que tava vendo. Uma coisa que nunca me interessou, mas hoje em dia eu vejo isso de uma forma diferente. É meio que esse registro só.