Negro, filho de imigrantes, sem qualquer educação formal em arte, morto aos 27 anos, contrariou todos os indicativos se tornando um dos grandes nomes da história da arte.

 

Há poucos meses, na semana de leilões de arte contemporânea da casa Sotheby’s em Nova York, os presentes puderam conferir uma guerra de lances raramente observada, que durou 10 minutos e terminou com um preço recorde para uma obra de um artista norte-americano, algo em torno de R$ 367 milhões de reais.

O artista em questão é Jean-Michel Basquiat e a obra sem título comprada pelo fundador do gigante de comércio online Start Today, Yusaku Maezawa, é composta por uma série de linhas tortuosas sobrepostas formando uma cabeça perturbadora de várias cores.

 

 

Basquiat era negro, filho de imigrantes, nunca teve qualquer educação formal em arte e morreu muito jovem, com 27 anos. Contrariando todos esses indicativos, entrou no hall dos grandes artistas da história da arte e é considerado por muitos o percursor da popularização do grafite.

Flertou com a pintura, cinema, música e outras formas de expressão artística. Viveu em uma Nova York em ebulição criativa e conviveu com outros grandes nomes de sua época como Keith Haring, David Salle, Andy Warhol, com quem estabeleceu forte parceria, e Madonna, com quem teve um affair.

 

Jean-Michel Basquiat e seu icônico corte de cabelo 

 

1960

Nascido em 1960, era o mais velho de três filhos. O pai (Gerard Jean-Baptiste Basquiat) havia sido ministro do interior no seu país de origem - o Haiti - e a mãe (Mathilde Andrada) era de origem porto-riquenha. A vida nos subúrbios do Brooklyn trouxe alguns dos temas de destaque em suas obras, como o racismo e a exclusão social.

Aos três anos de idade, já fazia seus primeiros traços. Sua mãe logo percebeu o talento do menino em se expressar e passou a incentivá-lo a participar intensamente do universo das artes. 

 

Atlas do corpo humano

Com sete anos, foi atropelado e teve de passar por um processo longo de recuperação. No hospital, ganhou da mãe um presente que influenciou amplamente seu trabalho: um atlas do corpo humano. Intitulado “Gray’s Anatomy”, o livro trazia imagens da anatomia humana que futuramente seriam facilmente percebidas nas representações e formas de seus desenhos.

O presente também influenciou sua breve carreira musical. Em 1979, fundou a banda “Gray”, juntamente com o ator Vincent Gallo. É possível encontrar alguns sons da banda na internet.

 

Ainda no mundo da música, além da banda Gray, Basquiat também foi uma peça importante no início do Hip-Hop, produzindo com grandes nomes dos primórdios do rap, como Ramellzee e GrandMaster Flash. 

 

Same Old Shit

Mas foi no grafite que Basquiat firmou seu nome na história. Sob o pseudônimo de “SAMO”, abreviação para “Same Old Shit”, ele escrevia suas frases e desenhava pelas ruas de SoHo, um bairro lotado de galerias de arte em NY. Não demorou para que “SAMO” fosse notado, inclusive tendo trabalhos copiados por outros artistas. Com o sucesso, Basquiat chamou a atenção da mídia, andava com celebridades e seus trabalhos passaram a figurar em grandes galerias.

Contestando o papel do negro na história, enaltecendo seus heróis, retratando a vida na cidade, rostos solitários e corpos esqueléticos, transportando sentimentos para a tela com os mais variados materiais e formas, de um jeito inovador e único, foi colocado na ala dos pintores neo-expressionistas. A arte de Basquiat também é conhecida como “primitivismo intelectualizado”.

 

“It's not who you are that
holds you back, it's who you
think you are not.”

- Jean-Michel Basquiat

 

 

A ascensão meteórica do menino inquieto do Brooklyn acabou em uma overdose de drogas antes dos 30 anos. Em 1996, uma cinebiografia (Basquiat) contando sua história foi lançada, com David Bowie interpretando Andy Warhol.